Quando somos acolhidos, bem recebidos, em qualquer lugar, em geral nossa reação é de simpatia e abertura,esperando o melhor daquele ambiente daquelas pessoas. Quando ao contrário somos recebidos friamente,nossa tendência é também ignorar, não se envolver, passar desapercebidos. E o que acontece quando somos mal recebidos? A gente jura não voltar mais àquele lugar!"[...]"Por que com a criança e sua família deveria ser diferente?" (ORTIS, Avisa lá)
A busca da parceria da família é necessário, e a porta do diálogo deve ser uma constante entre as partes envolvidas no processo, e a partir do acolhimento inicial e necessário, tanto das crianças, quanto das famílias é possível o desenvolvimento de outros projetos durante o ano letivo.
SUMÁRIO
1-O NÓ DO AFETO -Eloi Zanetti
2-O Pai - Rubem Alves
3-MENSAGEM ÁS FAMÍLIAS-Eugênia Puebla
4- MÃE MÁ-Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra
5-ESCOLA E FAMÍLIA: PARCEIRAS, NÃO INIMIGAS: Andréia Schmidt
6-Educação sexual nas escolas-Por Victor Gonçalves
7-Educação: responsabilidade da família ou da escola?-Fábio Henrique Prado de Toledo
1-O NÓ DO AFETO -Eloi Zanetti
Era um reunião numa escola. A diretora incentivava os pais a apoiarem as crianças, falando da necessidade da presença deles junto aos filhos. Mesmo sabendo que a maioria dos pais e mães trabalhava fora, ela tinha convicção da necessidade de acharem tempo para seus filhos.
Foi então que um pai, com seu jeito simples, explicou que saía tão cedo de casa, que seu filho ainda dormia e que, quando voltava, o pequeno, cansado, já adormecera. Explicou que não podia deixar de trabalhar tanto assim, pois estava cada vez mais difícil sustentar a família. E contou como isso o deixava angustiado, por praticamente só conviver com o filho nos fins de semana.
O pai, então, falou como tentava redimir-se, indo beijar a criança todas as noites, quando chegava em casa. Contou que a cada beijo, ele dava um pequeno nó no lençol, para que seu filho soubesse que ele estivera ali. Quando acordava, o menino sabia que seu pai o amava e lá estivera. E era o nó o meio de se ligarem um ao outro.
Aquela história emocionou a diretora da escola que, surpresa, verificou ser aquele menino um dos melhores e mais ajustados alunos da classe. E a fez refletir sobre as infinitas maneiras que pais e filhos têm de se comunicarem, de se fazerem presentes nas vidas uns dos outros. O pai encontrou sua forma simples, mas eficiente, de se fazer presente e, o mais importante, de que seu filho acreditasse na sua presença.
Para que a comunicação se instale, é preciso que os filhos 'ouçam' o coração dos pais ou responsáveis, pois os sentimentos falam mais alto do que as palavras. É por essa razão que um beijo, um abraço, um carinho, revestidos de puro afeto, curam até dor de cabeça, arranhão, ciúme do irmão, medo do escuro, etc.
Uma criança pode não entender certas palavras, mas sabe registrar e gravar um gesto de amor, mesmo que este seja um simples nó.
E você? Tem dado um nó no lençol do seu filho?
(reproduzido da RevistaTiquinho - outubro/2001)
Eloi Zanetti é Consultor em Marketing, Comunicação Corporativa e Vendas, Palestrante e Escritor
ANTES QUE ELES CRESÇAM - Affonso Romano de Sant'Anna
Há um período em que os pais vão ficando órfãos de seus próprios filhos.
É que as crianças crescem independentes de nós, como árvores tagarelas e pássaros estabanados.
Crescem sem pedir licença à vida.
Crescem com uma estridência alegre e, às vezes com alardeada arrogância.
Mas não crescem todos os dias, de igual maneira, crescem de repente.
Um dia sentam-se perto de você no terraço e dizem uma frase com tal maneira que você sente que não pode mais trocar as fraldas daquela criatura.
Onde é que andou crescendo aquela danadinha que você não percebeu?
Cadê a pazinha de brincar na areia, as festinhas de aniversário com palhaços e o primeiro uniforme do maternal?
A criança está crescendo num ritual de obediência orgânica e desobediência civil. E você está agora ali, na porta da discoteca, esperando que ela não apenas cresça, mas apareça...
Ali estão muitos pais ao volante, esperando que eles saiam esfuziantes e cabelos longos, soltos.
Entre hambúrgueres e refrigerantes nas esquinas, lá estão nossos filhos com uniforme de sua geração.
Esses são os filhos que conseguimos gerar e amar, apesar dos golpes dos ventos, das colheitas, das notícias, e da ditadura das horas.
E eles crescem meio amestrados, observando e aprendendo com nossos acertos e erros.
Principalmente com os erros que esperamos que não se repitam.
Há um período em que os pais vão ficando um pouco órfãos dos filhos.
Não mais os pegaremos nas portas das discotecas e das festas.
Passou o tempo do ballet, do inglês, da natação e do judô.
Saíram do banco de trás e passaram para o volante de suas próprias vidas. Deveríamos ter ido mais à cama deles ao anoitecer para ouvirmos sua alma respirando conversas e confidências entre os lençóis da infância, e os adolescentes cobertores daquele quarto cheio de adesivos, posters, agendas coloridas e discos ensurdecedores.
Não os levamos suficientemente ao Playcenter, ao shopping, não lhes demos suficientes hamburgueres e refrigerantes, não lhes compramos todos os sorvetes e roupas que gostaríamos de ter comprado.
Eles cresceram sem que esgotássemos neles todo o nosso afeto.
No princípio iam à casa de praia entre embrulhos, bolachas, engarrafamentos, natais, páscoas, piscinas e amiguinhos.
Sim havia as brigas dentro do carro, a disputa pela janela, os pedidos de chicletes e cantorias sem fim.
Depois chegou o tempo em que viajar com os pais começou a ser um esforço, um sofrimento, pois era impossível deixar a turma e os primeiros namorados.
Os pais ficaram exilados dos filhos. Tinham a solidão que sempre desejaram, mas, de repente, morriam de saudades daquelas "pestes".
Chega o momento em que só nos resta ficar de longe torcendo e rezando muito para que eles acertem nas escolhas em busca da felicidade.
E que a conquistem do modo mais completo possível.
O jeito é esperar: qualquer hora podem nos dar netos.
O neto é a hora do carinho ocioso e estocado, não exercido nos próprios filhos e que não pode morrer conosco.
Por isso os avós são tão desmesurados e distribuem tão incontrolável carinho.
Os netos são a última oportunidade de reeditar o nosso afeto.
Por isso é necessário fazer alguma coisa a mais, antes que eles cresçam.
Extraído do site: http://www.veraperdigao.com.br/poesias/especiais/01affonso_romano/affonso_romaro.html#AR13
2-O Pai - Rubem Alves
Quando começo a escrever deixo de ser dono de mim mesmo. Fico à mercê de idéias que nunca pensei. Elas aparecem sem que eu as tenha chamado e me dizem: “Escreva!“ Não tenho outra alternativa. Obedeço. Cummings, referindo-se a um livro seu, ao invés de dizer “quando eu escrevi esse livro“, disse “quando esse livro se escreveu.“ Não foi ele... O livro já estava escrito antes, em algum lugar. Ele só fez obedecer as ordens que o livro lhe deu. Nikos Kazantzakis, autor de Zorba, o Grego, confessou que as letras do alfabeto o aterrorizavam. E isso porque, uma vez soltas, elas se recusavam a obedecer as suas ordens. “As letras são demônios astutos e desavergonhados — e perigosos! Você abre o tinteiro e as solta: elas correm — e você não mais conseguirá trazê-las de novo para seu controle! Elas ficam vivas, juntam-se, separam-se, ignoram suas ordens, arranjam-se a seu bel-prazer no papel — pretas, com rabos e chifres. Você grita e implora: tudo em vão. Elas fazem o que querem...“
Era meu costume tentar colocar ordem na casa: planejar, determinar de forma lógica e metódica os temas sobre que eu iria escrever. Foi assim que resolvi escrever um livro em que colocaria em ordem e diria tudo o que eu havia pensado sobre a educação. O título seria: A erótica da educação e a educação da erótica. Por cinco anos lutei. As idéias não me faltavam. Mas as palavras se recusaram a me obedecer. O dito livro não queria ser escrito. Wittgenstein passou por experiência semelhante. Por muitos anos ajuntou idéias. Aí, tentou ordená-las sob a forma de um texto filosófico. Eis o que aconteceu, em suas próprias palavras: “Depois de várias tentativas mal sucedidas de fundir meus resultados numa peça única, percebi que eu nunca haveria de ser bem sucedido. O melhor que eu poderia escrever seria nada mais que anotações filosóficas; os meus pensamentos ficavam logo paralisados se eu tentava forçá-los numa única direção contra a sua inclinação natural.“
Pois eu não tinha intenção alguma de escrever sobre o dia dos pais. Mas, de repente, passando os olhos num livro que uma amiga me enviou, encontrei a seguinte afirmação: “Tomar uma decisão de ter um filho é algo que irá mudar sua vida inteira de forma inexorável. Dali para frente, para sempre, o seu coração caminhará por caminhos fora do seu corpo.“
Aí as idéias puseram a se movimentar por conta própria. Pensei na minha condição de pai. É verdade: pai é alguém que, por causa de um filho, tem sua vida inteira mudada de forma inexorável. Isso não é verdadeiro do pai biológico. É fácil demais ser pai biológico. Pai biológico não precisa ter alma. Um pai biológico se faz num momento. Mas há um pai que é um ser da eternidade: aquele cujo coração caminha por caminhos fora do seu corpo. Pulsa, secretamente, no corpo do seu filho (muito embora o filho não saiba disto).
Lembrei-me dos meus sentimentos antigos de pai, diante dos meus filhos adormecidos. Veio-me à mente a imagem de um “ninho“. Bachelard, o pensador mais sensível que conheço, amava os ninhos e escreveu sobre eles. Imaginou que, “para o pássaro, o ninho é indiscutivelmente uma cálida e doce morada. É uma casa de vida: continua a envolver o pássaro que sai do ovo. Para este, o ninho é uma penugem externa antes que a pele nua encontre sua penugem corporal.“ Era isso que eu queria ser. Eu queria ser ninho para os meus filhos pequenos. Queria que meu corpo fosse um ninho-penugem que os protegesse, um ninho que balança mansamente no galho de uma árvore ao ritmo de uma canção de ninar...
Que felicidade enche o coração de um pai quando o filho que ele tem no colo se abandona e adormece! Adormecida, a criança está dizendo: “tudo está bem; não é preciso ter medo“. Deitada adormecida nos braços-ninho do seu pai ela aprende que o universo é um ninho! Não importa que não seja! Não importa que os ninhos estejam todos destinados ao abandono e ao esquecimento! A alma não se alimenta de verdades. Ela se alimenta de fantasias. O ninho é uma fantasia eterna. Jung deveria tê-lo incluído entre os seus arquétipos! “O ninho leva-nos de volta à infância, a uma infância!“ (Bachelard). Aquela cena, a criança adormecida nos braços do pai, nos reconduz à cena de uma criancinha adormecida na estrebaria de Belém! Tudo é paz! Desejaríamos que ela, a cena, não terminasse nunca! Que fosse eterna!
É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de uma criança. É impossível calcular a importância desses momentos efêmeros na vida de um pai. O efêmero e o eterno abraçados num único momento! “Conter o infinito na palma da sua mão e a eternidade em uma hora“: o pai que tem o seu filho adormecido nos seus braços é um poeta! Essas palavras do poeta William Blake bem que poderiam ser suas. Um homem que guarda memórias de ninho na sua alma tem de ser um homem bom. Uma criança que guarda memórias de um ninho em sua alma tem de ser calma!
Mas logo o pequeno pássaro começará a ensaiar seus vôos incertos. Agora não serão mais os braços do pai, arredondados num abraço, que irão definir o espaço do ninho. Os braços do pai terão de se abrir para que o ninho fique maior. E serão os olhos do pai, no espaço que seus braços já não podem conter, que irão marcar os limites do ninho. A criança se sente segura se, de longe, ela vê que os olhos do seu pai a protegem. Olhos também são colos. Olhos também são ninhos. “Não tenha medo. Estou aqui! Estou vendo você“: é isso o que eles dizem, os olhos do pai.
O que a criança deseja não é liberdade. O que ela deseja é excursionar, explorar o espaço desconhecido – desde que seja fácil voltar. Tela de Van Gogh. É um jardim. No lado direito do jardim, mãe e criança que acabam de chegar. Ao lado esquerdo o pai, jardineiro, agachado com os braços estendidos na direção do filho. É preciso que o pai esconda o seu tamanho, que ele esteja agachado para que seus olhos e os olhos do seu filho se contemplem no mesmo nível. A cena é como um acorde suspenso, que pede uma resolução. É certo que o filho largará a mão da mãe e virá correndo para o pai... E a fantasia pinta a cena final de felicidade que o pintor não pode pintar: o pai pegando o filho no colo, os dois rindo de felicidade...
O tempo passa. Os pássaros tímidos aprendem a voar sem medo. Já não necessitam do olhar tranquilizador do pai. É a adolescência. Ser pai de um adolescente nada tem a ver com ser pai de uma criança. Pobre do pai que continua a estender os braços para o filho adolescente, como na tela de Van Gogh! Seus braços ficarão vazios. Como se envergonharia um adolescente se seu pai fizesse isso, na presença dos seus companheiros! É o horror de que os pássaros companheiros de vôo o vejam como um pássaro que gosta de ninho! Adolescente não quer ninho. Adolescente quer asas. Os ninhos, agora, só servem como pontos de partida para vôos em todas as direções. Liberdade, voar, voar... A volta ao ninho é o momento que não se deseja. Porque a vida não está no ninho, está no vôo. Os ninhos se transformam em gaiolas. Se eles procuram os olhos dos pais não é para se certificar de que estão sendo vistos mas para se certificar de que não estão sendo vistos! Aos pais só resta contemplar, impotentes, o vôo dos filhos, sabendo que eles mesmos não podem ir. Nos espaços por onde seus filhos voam os ninhos são proibidos. Mas eles terão de voltar ao ninho, mesmo contra a vontade. E o pai se tranquiliza e pode finalmente dormir ao ouvir, de madrugada, o barulho da chave na porta: “Ele voltou...“
Mas chega o momento quando os filhos partem para não mais voltar.
Através da minha janela vejo um ninho que rolinhas construíram nas folhas de uma palmeira. A pombinha está chocando seus ovos. Vejo sua cabecinha aparecendo fora do ninho. Mas numa outra folha da mesma palmeira há um outro ninho, abandonado. Esse é o destino dos ninhos, de todos os ninhos: o abandono.
Gibran Khalil Gibran escreveu, no seu livro O Profeta, um texto dedicado aos filhos. Não sei de cor suas precisas palavras. Mas vou tentar reconstrui-las. É aos pais que ele se dirige. “Vossos filhos não são vossos filhos. Vossos filhos são flechas. Vós sois o arco que dispara a flecha. Disparadas as flechas elas voam para longe do arco. E o arco fica só.“
Esse é o destino dos pais: a solidão. Não é solidão de abandono. E nem a solidão de ficar sozinho. É a solidão de ninho que não é mais ninho. E está certo. Os ninhos deixam de ser ninhos porque outros ninhos vão ser construídos. Os filhos partem para construir seus próprios ninhos e é a esses ninhos que eles deverão retornar.
Assim é na natureza. Assim é com os bichos. Deveria ser conosco também. Mas não é. Quem é pai tem o coração fora de lugar, coração que caminha, para sempre, por caminhos fora do seu próprio corpo. Caminha, clandestino, no corpo do filho. Dito pela Adélia: “Pior inferno é ver um filho sofrer sem poder ficar no lugar dele.“ Dito pelo Vinícius, escrevendo ao filho: “Eu, muitas noites, me debrucei sobre o teu berço e verti sobre teu pequenino corpo adormecido as minhas mais indefesas lágrimas de amor, e pedi a todas as divindades que cravassem na minha carne as farpas feitas para a tua...“
Sei que é inevitável e bom que os filhos deixem de ser crianças e abandonem a proteção do ninho. Eu mesmo sempre os empurrei para fora.
Sei que é inevitável que eles voem em todas as direções como andorinhas adoidadas.
Sei que é inevitável que eles construam seus próprios ninhos e eu fique como o ninho abandonado no alto da palmeira...
Mas, o que eu queria, mesmo, era poder fazê-los de novo dormir no meu colo...
3-Mensagem à família-Eugênia Puebla
Na educação de nossos filhos
Todo exagero é negativo.
Responda-lhe, não o instrua.
Proteja-o, não o cubra.
Ajude-o, não o substitua.
Abrigue-o, não o esconda.
Ame-o, não o idolatre.
Acompanhe-o, não o leve.
Mostre-lhe o perigo, não o atemorize.
Inclua-o, não o isole.
Alimente suas esperanças, não as descarte.
Não exija que seja o melhor, peça-lhe para ser bom e dê exemplo.
Não o mime em demasia, rodeie-o de amor.
Não o mande estudar, prepare-lhe um clima de estudo.
Não fabrique um castelo para ele, vivam todos com naturalidade.
Não lhe ensine a ser, seja você como quer que ele seja.
Não lhe dedique a vida, vivam todos.
Lembre-se de que seu filho não o escuta, ele o olha.
E, finalmente, quando a gaiola do canário se quebrar, não compre outra...
Ensina-lhe a viver sem portas.
Eugênia Puebla
4- MÃE MÁ-Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra
“Um dia quando os meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei de dizer-lhes:
- Eu amei-vos o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.
- Eu amei-vos o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.
- Eu amei-vos o suficiente para vos fazer pagar os rebuçados que tiraram do supermercado ou revistas do jornaleiro, e vos fazer dizer ao dono: “Nós tirámos isto ontem e queríamos pagar”.
- Eu amei-vos o suficiente para vos deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.
- Eu amei-vos o suficiente para ter ficado em pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.
- Eu amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas acções, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.
Mais do que tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e em alguns momentos até odiaram).
Estas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci... Porque no final vocês venceram também! E qualquer dia, quando os meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se a sua mãe era má, os meus filhos vão lhes dizer:
“Sim, a nossa mãe era má. Era a mãe mais má do mundo...As outras crianças comiam doces no café e nós só tinhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam refrigerante e comiam batatas fritas e sorvetes ao almoço e nós tinhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Tinha que saber quem eram os nossos amigos e o que nós fazíamos com eles.
Insistia que lhe disséssemos com quem iamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Ela insistia sempre connosco para que lhe disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade.
E quando éramos adolescentes, ela conseguia até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata!
Ela não deixava os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para ela os conhecer.
Enquanto todos podiam voltar tarde tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar pelos menos 16 para chegar um pouco mais tarde, e aquela chata levantava para saber se a festa foi boa (só para ver como estávamos ao voltar).
Por causa da nossa mãe, nós perdemos imensas experiências na adolescência.
- Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em actos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime.
FOI TUDO POR CAUSA DELA!”
Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o melhor para sermos “PAIS MAUS”, como a minha mãe foi. EU ACHO QUE ESTE É UM DOS MALES DO MUNDO DE HOJE: NÃO HÁ SUFICIENTES MÃES MÁS!
Aquelas que já são mães, que não se culpem, e aquelas que serão, que isso sirva de alerta!
(Dr. Carlos Hecktheuer, Médico Psiquiatra
5-ESCOLA E FAMÍLIA: PARCEIRAS, NÃO INIMIGAS: Andréia Schmidt
A escola é um fenômeno relativamente recente na história da humanidade. A nobreza européia não mandava seus filhos à escola; contratava sábios como tutores para que os iniciassem no mundo das artes e da ciência da época. A religião também tinha um papel importante na educação, já que os aspirantes à vida religiosa tinham acesso ao conhecimento formal, estando, dessa forma, aptos a ensinar. Com a ascensão da burguesia, os ricos comerciantes também exigiram o direito à educação formal para seus filhos, e os conhecimentos antes restritos aos "bem-nascidos" estenderam-se um pouco naquele mundo de estrutura social bem definida e pouco móvel. A instituição escolar somente surgiu como prática corrente por causa das exigências crescentes de um mundo cada vez mais industrializado. A produtividade demandava trabalhadores mais bem preparados para operar máquinas, consertar engrenagens e entender de processos produtivos. Com isso, precisava-se de pessoas que dominassem minimamente os conhecimentos necessários nas fábricas. A popularização dos conhecimentos escolares, porém, não tirou da família sua função intransferível: a transmissão de valores morais e éticos.
No século XX, o acesso à escola tomou proporções nunca antes imaginadas. A dedicação cada vez maior de homens e mulheres ao trabalho fez com que as crianças passassem muito mais tempo fora de casa (assim como os pais) e o papel da escola na formação dos indivíduos passou a ser maior.
O fenômeno que se tem observado atualmente é, no mínimo, curioso. Por um lado, a escola reclama da ausência da família no acompanhamento do desempenho escolar da criança, da falta de pulso dos pais para dar limites aos filhos, da dificuldade que muitos deles encontram em transmitir valores éticos e morais importantíssimos para a convivência em sociedade. Por outro, a família reclama da excessiva cobrança da escola para que os pais se responsabilizem mais pela aprendizagem da criança, da ausência de um currículo mais voltado para a transmissão de valores e da preparação do aluno para os desafios não-acadêmicos da sociedade e do mundo do trabalho.
Confusão de papéis? Falta de objetivos claros de ambas as partes? A definição da raiz do problema não é tão simples assim, e o fenômeno parece mais complexo do que se pode imaginar à primeira vista. O que se percebe, porém, são as conseqüências dele. Nos conflitos de "quem é responsável pelo que", nota-se crianças e adolescentes cada vez mais soltos, muitas vezes desmotivados com a escola, distantes de suas famílias e de seus professores, necessitando de uma atenção maior em relação aos seus conflitos e à sua formação como pessoas.
Um exemplo disso é o problema de disciplina. A escola reclama que os pais não conseguem dar uma educação que ensine às crianças e aos adolescentes o respeito pelas pessoas e pelas instituições. Já os pais alegam que é a escola que não é capaz de estabelecer os limites adequados para a convivência social. No meio desse jogo de empurra, estão o aluno, a criança e o adolescente, personagens de importância indiscutível tanto para a família quanto para a escola, mas cujas necessidades continuam à espera de um olhar mais apurado tanto da parte de seus pais quanto da escola.
A solução para esse impasse não será encontrada no calor das acusações. Ao contrário, estas somente aumentam as indisposições e os enfrentamentos e fazem com que as atitudes necessárias sejam adiadas. O aluno/filho somente será ajudado quando família e escola se encararem responsavelmente como parceiras de caminhada. O que é melhor para a educação da criança e do adolescente? Quais os valores que escola e família pretendem transmitir? Qual o papel de cada uma nessa tarefa? Como elas podem se ajudar?
Se escola e família tentarem, de forma séria, responder a essas perguntas e buscarem os recursos necessários para a concretização de suas metas, a chance de sucesso será maior de ambos os lados e o pacto de paz estará, finalmente, selado.
6-Educação sexual nas escolas-Por Victor Gonçalves
Um lembrete aos pais
Muitos pais encontram-se despreocupados achando que na escola seus filhos terão orientações adequadas sobre o tema da “educação sexual”. Na prática o que se observa é um grande despreparo das escolas neste campo, sejam escolas particulares ou públicas, e orientações totalmente inadequadas estão sendo passadas às crianças.
Há casos de escolas que, pensando estar fazendo algo de bom, adquiriram e distribuíram aos pais de seus alunos apostilas sobre “educação sexual” dirigida a crianças de 0 a 10 anos (isso mesmo, de zero a dez anos de idade !), com ilustrações de relações sexuais e onde se fazia apologia do homossexualismo, do sexo livre e da contracepção. Outras, pasmem, convidam palestrantes que elogiam a conduta daquele psicólogo que sedava seus pacientes adolescentes para se aproveitar deles; só criticam o método. Outras ainda trazem para seu ambiente palestras promovidas e pagas pelos laboratórios que produzem anticoncepcionais. Isso sem falar em professores pouco preparados que expõem o tema de forma constrangedora, em especial para as meninas. Todos esses não são teorias inventadas, mas são casos reais.
Um artigo intitulado justamente de “Educação sexual nas escolas”, publicado no site ProvidaFamilia.org, já falava a esse respeito:
Esse assunto(o da “educação sexual”) não é de hoje. Há alguns anos o Ministério da Saúde publicou, com o apoio da Fundação Ford e da "Pathfinder Fund" uma série de 7 cartilhas de conteúdo pornográfico destinadas a adolescentes, onde se fazia a apologia do homossexualismo, do sexo livre e da contracepção.
O artigo cita também a cooperação ente o Ministério da Educação e o Ministério da Saúde para produção de um manual de formação de professores de "educação sexual".
Esse manual intitulado "Saúde Sexual e Reprodutiva - Ensinando a Ensinar", obra com 433 páginas, foi financiado pelas fundações "The Pathfinder Fund" e "The Moriah Fund". Com recursos didáticos sofisticados, orienta futuros professores para transmitir aos alunos a filosofia e conteúdo do programa proposto. Como os demais livros, patrocinados pelos defensores do controle de população, essa obra procura incutir nos alunos uma mentalidade contraceptiva de conteúdo moral discutível. Considera, por exemplo a virgindade e o incesto como tabus. "O incesto é, ainda hoje considerado um tabu em muitas sociedades no mundo inteiro.... É preciso deixar claro que o tabu também se alimenta de crenças irracionais e, por isso mesmo, torna-se passível de mudança quando essas crenças começam a ser trabalhadas em um determinado grupo" (pág. 247).
Várias outras publicações e cartilhas, algumas delas traduzidas do inglês, foram publicadas entre nós. Mais recentemente a imprensa nos informa (Meio Norte, PI 28.09.96 ) de estudos que estão sendo feitos no Ministério da Educação com o objetivo de introduzir, nas escolas de 1º e 2º graus, a educação sexual nos chamados "temas transversais".
Por outro lado, a revista ISTO É (23.10.96) informava sobre a publicação de 50 mil cartilhas "Onde Mora o Perigo" em que, com desenhos de sexo explícito (sexo anal, sexo oral e palavrões grosseiros) se pretendia dar educação sexual a presidiários e prostitutas. Mas a ONG Cepia, do Rio de Janeiro, tendo recebido parte daquelas cartilhas, distribuiu entre os estudantes com idades de 14 a 17 anos, da Escola Estadual Golda Meyr, no Rio de Janeiro.
Em 1995, preocupado com o assunto a nível mundial, o Pontifício Conselho para a Família publicou o documento "Sexualidade Humana: Verdade e Significado - Orientações educativas em família, onde expõe o verdadeiro significado da educação sexual fundamentado nos princípios morais e cristãos.
Como podemos ver, os promotores da educação sexual, nos termos em que estão sendo propostos, funcionam como agentes de interesses internacionais e com fabulosos recursos financeiros oriundos de governos e fundações estrangeiras.
O artigo terminava dizendo algo que é bom reafirmar:
É necessário que os pais, os educadores e os defensores da vida e da família protestem contra essa intromissão indevida em nossa soberania. Não podemos nos omitir. A omissão nesses casos é conivência.
"Deve ser preocupação dos pais e dos educadores que os filhos tenham uma educação sexual sadia, que não se limite a um mero aprendizado do corpo humano, seus órgãos e funções, o que já é englobado pelas ciências naturais, nem, o que seria pior, a querer transformar em técnica uma realidade natural, maravilhosa e complementar do ser humano como é a atividade sexual. Não se prescinde do amor na realização do sexo, pois o homem é um ser racional que não age somente por instinto, como os animais. Em todo o viver humano, a razão deve ser norteadora das condutas. Não se pode, como pretendem alguns, reduzir o sexo humano a algo mecânico e superficial, destinado única e exclusivamente a proporcionar prazer." (Cartilha Saber Amar – Qual é a sua ?, obra que recomendamos).
Achar que os filhos estarão preparados simplesmente porque lhes ensinam técnicas contraceptivas, ignorando totalmente os valores e a vida humana, e não ensinando o sexo no contexto de um amor verdadeiro e duradouro, é um grande engano contra o qual os pais devem ficar alertas. Por isso, os pais precisam se informar sobre como o tema está sendo tratado na escola de seus filhos.
Publicado no Portal da Família em 02/03/2003
7-Educação: responsabilidade da família ou da escola?-Fábio Henrique Prado de Toledo
Uma mãe contou-me, certa vez, que se reuniu com o marido, já tarde da noite, para tratar de um problema com o filho: o garoto não obedece. Depois de uns minutos de conversa e, sem nenhuma conclusão, o pai disse: “mas não há muito que se preocupar, faltam apenas dez dias de férias. Com a volta às aulas, quem sabe a escola dá um jeito nele...”.
O problema proposto e a forma com que se buscou a solução nos permitem fazer uma indagação: a quem cabe a responsabilidade pela educação dos filhos, aos pais ou à escola?
O Estatuto da Criança e do Adolescente, muito sabiamente, consagra em seu artigo 19 que toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família. E digo que é sábia essa norma porque penso que os pais são os principais educadores de seus filhos. E isso é assim porque existe uma relação natural entre paternidade e educação. A paternidade consiste em transmitir a vida a um novo ser. A educação é ajudar a cada filho a crescer como pessoa, o que implica em proporcionar-lhes meios para adquirir e desenvolver as virtudes, tais como a sinceridade, a generosidade, a obediência, dentre muitas outras.
Os filhos nascem e se educam em uma família concreta. A família é uma atmosfera que a pessoa necessita para respirar. Entre seus membros costuma haver laços de afeto incondicionais que fazem um ambiente propício para que a educação se desenvolva. Nesse sentido, é ela essencial para a formação da pessoa. Os valores que se cultuam no lar irão marcar de forma indelével o homem e a mulher da amanhã.
Muito bem, mas se a função primordial na educação cabe aos pais, o que compete à escola? Ou, mais ainda, como essa pode ajudar os pais na educação dos filhos?
É natural que os pais deleguem algumas funções educativas à escola, como por exemplo, o ensino das várias disciplinas apropriadas a cada faixa etária, mas daí não se pode concluir que possam abandonar essas funções delegadas. Aliás, somente se delega aquilo que é próprio. E em sendo delegada tal atribuição, cabe aos pais acompanhar como está sendo desempenhada.
Um ponto essencial nessa relação entre os pais e a escola é cuidar para que haja coerência entre a educação que se desenvolve no colégio e o que os pais ensinam em casa.
Essa consideração de que os pais ocupam lugar de primazia na educação dos filhos não coloca a escola num segundo plano na função educativa. Pelo contrário, as instituições que reconhecem o papel da família, sem o que a formação que proporcionam não terá eficácia, cuidam de desenvolver também uma educação voltada para os pais. As imensas dificuldades que eles enfrentam em educar os filhos no mundo moderno devem despertar as escolas para que passem a ajudá-los, dando-lhes conhecimentos acerca de como devem atuar na formação dos filhos.
Não há dúvida de que ser pai e mãe hoje implica em ser profissional da educação. Isso significa que têm de se adiantarem aos problemas naturais de cada idade dos filhos. Por exemplo, é muito comum que enfrentem dificuldades em fazer com que as crianças durmam sozinhas nos primeiros anos de vida, assim como são muito freqüentes as crises de rebeldia na adolescência. Diante disso, a escola, como colaboradora da família, deve estar preparada para dar formação aos pais, auxiliando-os com conhecimentos técnicos e com um acompanhamento personalizado nessa difícil tarefa de educar.
Em vários países há instituições de ensino que têm adotado um programa que consiste em manter contatos periódicos entre os pais e os professores. E isso ocorre não apenas quando o filho quebra a vidraça do colégio, mas mesmo que não haja nenhum problema aparente. Trata-se de reconhecer o que há de bom em cada aluno e, a partir disso, traçar um plano pessoal de melhora, com atuações concretas a serem implementadas em casa e na escola. Os resultados têm sido bem interessantes.
Para isso é necessário, porém, que se admita a importância dos pais na educação, e que a escola, colaboradora desses, os ensinem a educar, atuando ambos coerentemente em uma mesma direção.
Fábio Henrique Prado de Toledo é Juiz de Direito em Campinas e Especialista em Matrimônio e Educação Familiar pela Universitat Internacional de Catalunya – UIC.
e-mail: fabiohptoledo@gmail.com
Publicado no Portal da Família em 25/10/2010
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