Algumas atividades que auxiliam , é uma forma lúdica de abordar o tema, sexualidade.
http://www.parana-online.com.br/editoria/mundo/news/199759/?noticia=SEXUALIDADE+DEBATIDA+DENTRO+DA+ESCOLA
Sexualidade debatida dentro da escola
Joyce Carvalho
Dúvidas de meninos e meninas podem ser esclarecidas.
Sexualidade não pode ser tratada apenas como sexo. É um conjunto de sentimentos e relacionamentos, estabelecido desde que a pessoa nasce. Sexualidade nada mais é do que conhecer a si próprio. Dependendo da idade, ela deve ser encarada de diferentes formas, mas não pode ser esquecida ou negligenciada. Situações do cotidiano e orientações sutis podem estimular a discussão sobre o assunto, especialmente com as crianças. Ninguém pode esquecer de incluí-las nesta discussão.
Tudo começa com perguntas sobre a nossa existência. Depois, vêm tantos outros questionamentos. As discussões sobre como se relacionar com o mundo e com os outros começam logo cedo. Um exemplo é a história dos meninos não poderem brincar com as meninas. “Brinco mais com as meninas. Os meninos correm atrás da gente”, afirma Helena, de 5 anos, aluna do ensino infantil do Colégio Marista Santa Maria. “Meninos às vezes brincam com as meninas. Brinco com os meus amigos de polícia e ladrão. Mas as meninas também podem participar”, diz João Lourenço, de 6 anos, aluno da mesma escola.
Dentro da programação do colégio com as crianças do ensino infantil, estão alguns objetivos, como expressar, distinguir e saber o significado dos sentimentos, necessidades, preferências e idéias, com a intenção de desenvolver o auto conhecimento e a auto-estima; saber relacionar-se com outras pessoas; e experimentar papéis no faz-de-conta para ampliar o convívio social. Todos esses itens são muito importantes na formação da criança, segundo Danielle Barriquello, assessora pedagógica do Colégio Marista Santa Maria.
A sexualidade é um dos temas transversais do sistema educacional, e que pode ser abordado de diversas formas, em diferentes momentos. Helena, João Lourenço e seus colegas também aprenderam sobre o corpo humano, por meio de atividades lúdicas. Em uma delas, eles desenharam os corpos de uma menina e de um menino. “Cada um desenhou uma parte”, explica João Lourenço. Os desenhos ficaram expostos na sala de aula.
Danielle afirma que as perguntas das crianças sempre vão existir. Tudo depende da maneira como se escuta o questionamento. “Na sexualidade, estamos lidando com a questão dos gêneros, jogos, brincadeiras, escolhas, preconceitos, relações de poder. Cabe à família e à escola fazer com que este seja um assunto não velado. A sexualidade é algo além dos aparelhos reprodutores. É importante saber os nomes das partes do nosso corpo, mas também é importante o faz-de-conta, no qual se espelha o relacionamento em família e com outras pessoas”, comenta.
Para a diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, Nara Luz Chierighini Salamunes, uma das maneiras de se tratar a sexualidade com crianças é aproveitar situações do cotidiano. Os pequenos sempre manifestam a curiosidade e a sexualidade é um tema de muita curiosidade. As crianças acabam levando suas dúvidas para dentro da escola. “Não existe uma disciplina de educação sexual nos primeiros anos. Mas sempre se aborda a história do papel da mulher na sociedade, as diferenças físicas entre homens e mulheres, doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo. Hoje em dia, não se pode esperar a adolescência para discutir natalidade”, esclarece. Quando se fala de sexualidade, também se aprende sobre as responsabilidades, opções e direitos que todos têm diante do seu corpo.
Pais e professores têm papel muito importante
Marilza Regazzo: “Uma explicação deve ser dada com leveza”.
Quando os pais ou professores falarem sobre sexualidade com as crianças, eles devem se despir de qualquer tipo de valor ou preconceito. A assessora pedagógica Danielle Barriquel-lo, do Colégio Santa Maria, acredita que, apesar da sexualidade ser um tema transversal, também deve ser planejado pela escola. Aí entra a preparação dos educadores e dos pais, o que é essencial. De acordo com ela, só consegue trabalhar a sexualidade com crianças quem não tem “amarras”. Não se pode tratar o assunto com a mesma mente de um adulto. “As pessoas devem parar de encarar a sexualidade apenas como sexo. É um campo vasto de relações”, argumenta Danielle. Os professores do colégio passaram por capacitação nesta área para lidar com o assunto diante dos alunos.
Nara Luz Chierighini Salamunes, da Secretaria Municipal de Educação, acredita que a sexualidade deve ser tratada de maneira aberta, sem preconceitos de qualquer ordem. A mesma opinião é compartilhada pela psicopedagoga Marilza Regazzo Grabarski. “Você não vai dar todas as explicações técnicas para uma criança. Vai abaixar na altura dela, dar uma explicação de leve. Nem os pais nem os professores podem dar suas opiniões sobre o assunto. Mas as escolas só devem passar as informações. A formação final é da família. Infelizmente, a família está delegando essa função somente para a escola, que não dá conta”, avalia.
Não existe um tempo propício para iniciar as discussões sobre a sexualidade, segundo Mari Angela Calderari Oliveira, diretora da Clínica de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Não existe um marco delimitado para isso. Se existe um diálogo aberto, a sexualidade deve ser tratada da mesma forma. Tudo é preciso ser pautado pelo bom senso. Responder de uma forma compreensível, sem se estender em termos técnicos. Mas sempre tem que dizer a verdade, sem juízo de valor. Lidar com a sexualidade é necessário”, classifica.
Para Júlia Valéria Cordellini, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria Municipal de Saúde, a escola é um dos espaços ideais para a discussão da sexualidade, pois trabalha a formação curricular e humana. “A escola não pode fugir deste papel. Ela não pode somente transmitir conhecimento. Na infância, é preciso usar muito o lado lúdico”, declara.
Além da questão dos relacionamentos, a educação sexual na infância também é importante por causa de uma triste estatística: a violência sexual contra crianças. “A criança, às vezes, é educada só para obedecer e deixa abusar. É preciso ensinar sobre como se relacionar com o próprio corpo, justamente para evitar uma violência sexual”, ensina Júlia.
Interação e simplicidade nos esclarecimentos
Maria: “Muitas perguntas”.
No Colégio Marista Santa Maria, a sexualidade é tratada no Ensino Infantil com o trabalho de conhecimento de si próprio e do outro. Dentro deste tema, são abordados assuntos ligados à sexualidade. Nos primeiros quatro anos do Ensino Fundamental (1.ª a 4.ª série), são elaborados objetivos a serem alcançados durante o ano letivo e, entre eles, estão as discussões sobre a sexualidade, segundo a assessora pedagógica da escola, Danielle Barriquello. “Realizamos assembléias, indicamos literatura e instituímos a caixa de perguntas, na qual os alunos podem deixar seus questionamentos, que serão respondidos pelas professoras. A partir do momento que se traz a discussão, se aprimora a relação da criança com ela mesma, com a família e com os pais”, fala.
A aluna Maria Fernanda, de 9 anos, que estuda na 3.ª série do Ensino Fundamental do Colégio Santa Maria, conta que ela e seus colegas de classe assistiram a um vídeo que tratava sobre a sexualidade, em uma linguagem simples de ser compreendida. Após a sessão, os alunos colocaram suas dúvidas na caixinha de perguntas. Os questionamentos foram trabalhados pela professora. “Tinha perguntas sobre vários assuntos, como por exemplo, de onde vem o espermatozóide e quantos meses demorava para formar um bebê. Quando perguntavam para a gente, eram sempre as mesmas pessoas que diziam. A maioria não quis responder ou não sabia”, afirma.
Rafael: “Várias assembléias”
A segregação entre meninos e meninas ainda aparece nesta faixa etária, mas com menor intensidade. Se João Lourenço, de 6 anos, disse que somente os garotos brincavam de polícia e ladrão, a situação é diferente quando se tornam mais velhos. “Meninos e meninas podem brincar juntos. Tanto faz brincar juntos ou não. A minha sala inteira brinca de polícia e ladrão. Os meninos são os bandidos e as meninas são a polícia”, conta Maria Fernanda.
Para o aluno Rafael, de 10 anos, também da 3.ª série do Ensino Fundamental da mesma escola, os meninos podem conviver pacificamente com as meninas. Mas faz um ressalva: nos momentos de esporte, meninas só jogam caçador e os meninos só querem saber de futebol. Se não quer participar da partida de futebol, não resta outra alternativa a não ser ficar com as garotas.
Rafael comenta que vários tipos de discussões entram nas assembléias promovidas dentro da sala de aula. Um dos assuntos que aparecem é justamente a sexualidade. “Ainda usamos a caixinha de perguntas e participamos da assembléia”, explica. Um dos temas que entram nessa discussão é chamar outros meninos de bicha ou gay, mesmo os garotos argumentando que não usam os termos para ofender. Mas o assunto está presente e precisa ser discutido. Afinal, sexualidade trata das relações e sentimentos de qualquer ser humano.
http://www.parana-online.com.br/editoria/mundo/news/199759/?noticia=SEXUALIDADE+DEBATIDA+DENTRO+DA+ESCOLA
Sexualidade debatida dentro da escola
Joyce Carvalho
Dúvidas de meninos e meninas podem ser esclarecidas.
Sexualidade não pode ser tratada apenas como sexo. É um conjunto de sentimentos e relacionamentos, estabelecido desde que a pessoa nasce. Sexualidade nada mais é do que conhecer a si próprio. Dependendo da idade, ela deve ser encarada de diferentes formas, mas não pode ser esquecida ou negligenciada. Situações do cotidiano e orientações sutis podem estimular a discussão sobre o assunto, especialmente com as crianças. Ninguém pode esquecer de incluí-las nesta discussão.
Tudo começa com perguntas sobre a nossa existência. Depois, vêm tantos outros questionamentos. As discussões sobre como se relacionar com o mundo e com os outros começam logo cedo. Um exemplo é a história dos meninos não poderem brincar com as meninas. “Brinco mais com as meninas. Os meninos correm atrás da gente”, afirma Helena, de 5 anos, aluna do ensino infantil do Colégio Marista Santa Maria. “Meninos às vezes brincam com as meninas. Brinco com os meus amigos de polícia e ladrão. Mas as meninas também podem participar”, diz João Lourenço, de 6 anos, aluno da mesma escola.
Dentro da programação do colégio com as crianças do ensino infantil, estão alguns objetivos, como expressar, distinguir e saber o significado dos sentimentos, necessidades, preferências e idéias, com a intenção de desenvolver o auto conhecimento e a auto-estima; saber relacionar-se com outras pessoas; e experimentar papéis no faz-de-conta para ampliar o convívio social. Todos esses itens são muito importantes na formação da criança, segundo Danielle Barriquello, assessora pedagógica do Colégio Marista Santa Maria.
A sexualidade é um dos temas transversais do sistema educacional, e que pode ser abordado de diversas formas, em diferentes momentos. Helena, João Lourenço e seus colegas também aprenderam sobre o corpo humano, por meio de atividades lúdicas. Em uma delas, eles desenharam os corpos de uma menina e de um menino. “Cada um desenhou uma parte”, explica João Lourenço. Os desenhos ficaram expostos na sala de aula.
Danielle afirma que as perguntas das crianças sempre vão existir. Tudo depende da maneira como se escuta o questionamento. “Na sexualidade, estamos lidando com a questão dos gêneros, jogos, brincadeiras, escolhas, preconceitos, relações de poder. Cabe à família e à escola fazer com que este seja um assunto não velado. A sexualidade é algo além dos aparelhos reprodutores. É importante saber os nomes das partes do nosso corpo, mas também é importante o faz-de-conta, no qual se espelha o relacionamento em família e com outras pessoas”, comenta.
Para a diretora do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, Nara Luz Chierighini Salamunes, uma das maneiras de se tratar a sexualidade com crianças é aproveitar situações do cotidiano. Os pequenos sempre manifestam a curiosidade e a sexualidade é um tema de muita curiosidade. As crianças acabam levando suas dúvidas para dentro da escola. “Não existe uma disciplina de educação sexual nos primeiros anos. Mas sempre se aborda a história do papel da mulher na sociedade, as diferenças físicas entre homens e mulheres, doenças sexualmente transmissíveis, por exemplo. Hoje em dia, não se pode esperar a adolescência para discutir natalidade”, esclarece. Quando se fala de sexualidade, também se aprende sobre as responsabilidades, opções e direitos que todos têm diante do seu corpo.
Pais e professores têm papel muito importante
Marilza Regazzo: “Uma explicação deve ser dada com leveza”.
Quando os pais ou professores falarem sobre sexualidade com as crianças, eles devem se despir de qualquer tipo de valor ou preconceito. A assessora pedagógica Danielle Barriquel-lo, do Colégio Santa Maria, acredita que, apesar da sexualidade ser um tema transversal, também deve ser planejado pela escola. Aí entra a preparação dos educadores e dos pais, o que é essencial. De acordo com ela, só consegue trabalhar a sexualidade com crianças quem não tem “amarras”. Não se pode tratar o assunto com a mesma mente de um adulto. “As pessoas devem parar de encarar a sexualidade apenas como sexo. É um campo vasto de relações”, argumenta Danielle. Os professores do colégio passaram por capacitação nesta área para lidar com o assunto diante dos alunos.
Nara Luz Chierighini Salamunes, da Secretaria Municipal de Educação, acredita que a sexualidade deve ser tratada de maneira aberta, sem preconceitos de qualquer ordem. A mesma opinião é compartilhada pela psicopedagoga Marilza Regazzo Grabarski. “Você não vai dar todas as explicações técnicas para uma criança. Vai abaixar na altura dela, dar uma explicação de leve. Nem os pais nem os professores podem dar suas opiniões sobre o assunto. Mas as escolas só devem passar as informações. A formação final é da família. Infelizmente, a família está delegando essa função somente para a escola, que não dá conta”, avalia.
Não existe um tempo propício para iniciar as discussões sobre a sexualidade, segundo Mari Angela Calderari Oliveira, diretora da Clínica de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). “Não existe um marco delimitado para isso. Se existe um diálogo aberto, a sexualidade deve ser tratada da mesma forma. Tudo é preciso ser pautado pelo bom senso. Responder de uma forma compreensível, sem se estender em termos técnicos. Mas sempre tem que dizer a verdade, sem juízo de valor. Lidar com a sexualidade é necessário”, classifica.
Para Júlia Valéria Cordellini, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria Municipal de Saúde, a escola é um dos espaços ideais para a discussão da sexualidade, pois trabalha a formação curricular e humana. “A escola não pode fugir deste papel. Ela não pode somente transmitir conhecimento. Na infância, é preciso usar muito o lado lúdico”, declara.
Além da questão dos relacionamentos, a educação sexual na infância também é importante por causa de uma triste estatística: a violência sexual contra crianças. “A criança, às vezes, é educada só para obedecer e deixa abusar. É preciso ensinar sobre como se relacionar com o próprio corpo, justamente para evitar uma violência sexual”, ensina Júlia.
Interação e simplicidade nos esclarecimentos
Maria: “Muitas perguntas”.
No Colégio Marista Santa Maria, a sexualidade é tratada no Ensino Infantil com o trabalho de conhecimento de si próprio e do outro. Dentro deste tema, são abordados assuntos ligados à sexualidade. Nos primeiros quatro anos do Ensino Fundamental (1.ª a 4.ª série), são elaborados objetivos a serem alcançados durante o ano letivo e, entre eles, estão as discussões sobre a sexualidade, segundo a assessora pedagógica da escola, Danielle Barriquello. “Realizamos assembléias, indicamos literatura e instituímos a caixa de perguntas, na qual os alunos podem deixar seus questionamentos, que serão respondidos pelas professoras. A partir do momento que se traz a discussão, se aprimora a relação da criança com ela mesma, com a família e com os pais”, fala.
A aluna Maria Fernanda, de 9 anos, que estuda na 3.ª série do Ensino Fundamental do Colégio Santa Maria, conta que ela e seus colegas de classe assistiram a um vídeo que tratava sobre a sexualidade, em uma linguagem simples de ser compreendida. Após a sessão, os alunos colocaram suas dúvidas na caixinha de perguntas. Os questionamentos foram trabalhados pela professora. “Tinha perguntas sobre vários assuntos, como por exemplo, de onde vem o espermatozóide e quantos meses demorava para formar um bebê. Quando perguntavam para a gente, eram sempre as mesmas pessoas que diziam. A maioria não quis responder ou não sabia”, afirma.
Rafael: “Várias assembléias”
A segregação entre meninos e meninas ainda aparece nesta faixa etária, mas com menor intensidade. Se João Lourenço, de 6 anos, disse que somente os garotos brincavam de polícia e ladrão, a situação é diferente quando se tornam mais velhos. “Meninos e meninas podem brincar juntos. Tanto faz brincar juntos ou não. A minha sala inteira brinca de polícia e ladrão. Os meninos são os bandidos e as meninas são a polícia”, conta Maria Fernanda.
Para o aluno Rafael, de 10 anos, também da 3.ª série do Ensino Fundamental da mesma escola, os meninos podem conviver pacificamente com as meninas. Mas faz um ressalva: nos momentos de esporte, meninas só jogam caçador e os meninos só querem saber de futebol. Se não quer participar da partida de futebol, não resta outra alternativa a não ser ficar com as garotas.
Rafael comenta que vários tipos de discussões entram nas assembléias promovidas dentro da sala de aula. Um dos assuntos que aparecem é justamente a sexualidade. “Ainda usamos a caixinha de perguntas e participamos da assembléia”, explica. Um dos temas que entram nessa discussão é chamar outros meninos de bicha ou gay, mesmo os garotos argumentando que não usam os termos para ofender. Mas o assunto está presente e precisa ser discutido. Afinal, sexualidade trata das relações e sentimentos de qualquer ser humano.
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